Direito, na prática
Reprodução
O discurso identitário tem um problema sério: o discurso. O proselitismo cheio de adjetivos e a pegada melodramática provoca resistências. Em especial nos bolsões onde não se compreende, racionalmente, o quanto o desequilíbrio social afeta toda a população — e não apenas os grupos discriminados.
A Fundação Getúlio Vargas, com o seu braço mais cultural — a FGV Arte — está ensinando como fazer para falar de inclusão de forma eficiente, poética, atraente e divertida até, sem perder a dramaticidade que a abordagem impõe.
Trata-se da Exposição “Afro Brasilidade, homenagem a dois Valentins e a um Emanoel”, em cartaz na Praia do Botafogo, 190, no Rio de Janeiro. Como disse um dos curadores da mostra, o pesquisador Paulo Herkenhoff: “O desavisado pode achar que o objeto aqui é arte apenas; mas estamos tratando é de direitos. Porque tudo é Direito”.

João Victor Guimarães fala na abertura da exposição
O também curador João Victor Guimarães define as afro-brasilidades como dois mundos forjados. Culturas “cada vez mais percebidas como cosmos em si”. Ambas “forjadas a partir das experiências nas diásporas africanas”.
No dizer de Herkenhoff, adicionando “lugar de escuta ao lugar de fala, uma reivindicação de artistas e vozes afrodescendentes sobre seu direito de expressar suas condições históricas, contemporâneas, sociais e pessoais”.
Reprodução
A exposição passeia por séculos de pinturas, esculturas e fotografias sobre a condição do negro no Brasil. Empresta voz a artistas jamais expostos fora de seus locais de origem — sem negligenciar gigantes da arte colonial como Aleijadinho, Mestre Valentim e Mestre Athaide, das Minas Gerais e Heitor dos Prazeres.

A atriz Zezé Motta
A beleza e o bom gosto das obras selecionadas dão à galeria montada na FGV ambientação amistosa, alegre e levemente intelectual. O diretor de cena da exposição, Sidnei Gonzales, soube temperar a abertura da mostra. Conectou a sisudez de quadros históricos de Modesto Brocos e Antonio Ferrigno com fotos de Walter Firmo e Christian Cravo e a maior revelação do samba moderno: Mosquito, apelido de Pedro Assad Medeiros Torres, herdeiro legítimo de Zeca Pagodinho. A interpretação de sua composição “Verso Ligeiro” sintetiza o espírito da mostra e é candidata aos anais dos melhores sambas brasileiros.
A exposição permanece na galeria da FGV até 10 de agosto. Vale a pena.
Visitação
A exposição é gratuita e conta com uma programação educacional gratuita, incluindo palestras, minicursos, seminários e oficinas.
– Terça a sexta, das 10h às 20h, sábado e domingo, das 10h às 18h
Fonte: Conjur